domingo, 29 de agosto de 2010
Miguel Bandeirinha: Orgulho Português
Miguel Bandeirinha: Orgulho Português: "Orgulho Português De todas as coisas do mundo De todas uma principal Tenho Orgulho em ser deste mundo Mas tenho PAIXÃO de viver em Portuga..."
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
alberto caeiro
nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
mudo, mas não mudo muito.
a cor das flores não é a mesma ao sol
de que quando uma nuvem passa
ou quando entra a noite
e as flores são cor da sombra.
mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
por isso quando pareço não comigo,
se estava virado para a direita,
voltei-me agora para a esquerda,
mas sou sempre eu, assente sobre os meus pés -
o mesmo sempre, graças ao céu e à terra
e aos meus olhos e ouvidos atentos
e à minha clara simplicidade de alma...
mudo, mas não mudo muito.
a cor das flores não é a mesma ao sol
de que quando uma nuvem passa
ou quando entra a noite
e as flores são cor da sombra.
mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
por isso quando pareço não comigo,
se estava virado para a direita,
voltei-me agora para a esquerda,
mas sou sempre eu, assente sobre os meus pés -
o mesmo sempre, graças ao céu e à terra
e aos meus olhos e ouvidos atentos
e à minha clara simplicidade de alma...
alvaro de campos
começo a conhecer-me. não existo.
sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...
sou assim, enfim...
apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulho de chinelas no corredor.
fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
é um universo barato.
sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...
sou assim, enfim...
apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulho de chinelas no corredor.
fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
é um universo barato.
domingo, 12 de outubro de 2008
william s.
Há certas horas, em que não precisamos de um Amor...Não precisamos da paixão desmedida...Não queremos beijo na boca...E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama...Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado...Sem nada dizer...Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...Alguém que ria de nossas piadas sem graça...Que ache nossas tristezas as maiores do mundo...Que nos teça elogios sem fim...E que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridadeinquestionável...Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado...Alguém que nos possa dizer:Acho que você está errado, mas estou do seu lado...Ou alguém que apenas diga:Sou seu amor! E estou Aqui!
sexta-feira, 18 de julho de 2008
“Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias; creio mesmo que tal distinção foi expressamente criada para ele e seus pares. De resto, é sempre possível a comparação com tipos inferiores da humanidade; e ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua actividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem deles os homens do seu tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.
A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantem na moral da luta; esse jamais tornará melhores seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala. Outros há que fazem da marcha do homem sobre a Terra uma estranha concepção; vêem-no girando perpetuamente nos batidos caminhos; e julgando o mundo por si, não descobrem em volta mais que uma eterna condenação à maldade, à cegueira e à miséria; bem no fundo da alma nenhuma luz que os alumie e solicite; porque não acreditam em progresso nenhuma vontade de melhorar; são os que troçam daquilo a que chamam “a pedagogia moderna”; são os que se riem de certos loucos que pensam o contrário.
Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor – eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor ao próximo.
Para que me fique inteira esta figura do professor hei-de juntar-lhe uma qualidade universal, uma helénica elasticidade e juventude espiritual; não o quero especialista, porque a sua missão não está em transmitir ciência; essa ou há-de o aluno aprendê-la ou não será; para ser homem precisa o moço de um mestre; sozinho, numa ilha sozinha, poderia ser um bom zoólogo; para tornar-se pessoa precisa do insistente contacto com pessoas, de homens que amem a vida a não apenas a escultura ou a física. Por aí mesmo dará o mestre boa prova da tempera da sua alma; porque o fraco e o baixo dificilmente se conservam em não especialismo; a cada passo o interesse ou o descanso. Há-de pois ter o espírito aberto a todas as correntes, nau pronta para sulcar todos os mares; mais do que a ninguém compete-lhe ter uma ideia do mundo tão perfeita quanto possível; como o havemos de imaginar completamente ignorante neste ou naquele domínio? Esta exigência lhe assegura uma vida de trabalho, horas todas ocupadas e férteis e contínuos projectos; por consequência a mocidade, o entusiasmo e a alegria que requer a missão pedagógica.”
A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantem na moral da luta; esse jamais tornará melhores seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala. Outros há que fazem da marcha do homem sobre a Terra uma estranha concepção; vêem-no girando perpetuamente nos batidos caminhos; e julgando o mundo por si, não descobrem em volta mais que uma eterna condenação à maldade, à cegueira e à miséria; bem no fundo da alma nenhuma luz que os alumie e solicite; porque não acreditam em progresso nenhuma vontade de melhorar; são os que troçam daquilo a que chamam “a pedagogia moderna”; são os que se riem de certos loucos que pensam o contrário.
Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor – eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor ao próximo.
Para que me fique inteira esta figura do professor hei-de juntar-lhe uma qualidade universal, uma helénica elasticidade e juventude espiritual; não o quero especialista, porque a sua missão não está em transmitir ciência; essa ou há-de o aluno aprendê-la ou não será; para ser homem precisa o moço de um mestre; sozinho, numa ilha sozinha, poderia ser um bom zoólogo; para tornar-se pessoa precisa do insistente contacto com pessoas, de homens que amem a vida a não apenas a escultura ou a física. Por aí mesmo dará o mestre boa prova da tempera da sua alma; porque o fraco e o baixo dificilmente se conservam em não especialismo; a cada passo o interesse ou o descanso. Há-de pois ter o espírito aberto a todas as correntes, nau pronta para sulcar todos os mares; mais do que a ninguém compete-lhe ter uma ideia do mundo tão perfeita quanto possível; como o havemos de imaginar completamente ignorante neste ou naquele domínio? Esta exigência lhe assegura uma vida de trabalho, horas todas ocupadas e férteis e contínuos projectos; por consequência a mocidade, o entusiasmo e a alegria que requer a missão pedagógica.”
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